Disciplina Positiva na Primeira Infância – Educar uma criança pequena pode parecer, muitas vezes, como andar numa corda bamba: de um lado, o desejo de impor limites claros; do outro, a vontade de proteger com amor e carinho. Nesse cenário, a disciplina positiva na primeira infância surge como um caminho possível — e poderoso. Ela nos convida a educar com firmeza, mas sem perder a ternura. Com limites, sim, mas recheados de empatia, escuta e conexão.
Neste artigo, vamos te mostrar como aplicar essa abordagem no dia a dia, com exemplos práticos, explicações claras e orientações baseadas em especialistas. Afinal, a primeira infância é uma janela de ouro para moldar o futuro emocional e social dos nossos pequenos.
O que é disciplina positiva, afinal de contas?
A disciplina positiva na primeira infância é uma abordagem educativa baseada no respeito mútuo, na empatia e na construção de habilidades sociais e emocionais. Ela foi desenvolvida por Jane Nelsen e se apoia nas ideias de Alfred Adler e Rudolf Dreikurs — psicólogos que defendiam que toda criança precisa se sentir pertencente e significativa dentro do ambiente em que vive.
Ou seja, em vez de punições ou recompensas vazias, a disciplina positiva busca educar com firmeza e gentileza ao mesmo tempo. O foco não está em controlar a criança, mas sim em ensinar habilidades de vida, como cooperação, respeito, responsabilidade, empatia e autorregulação.
Por que usar disciplina positiva na primeira infância é tão importante?
A primeira infância (dos 0 aos 6 anos) é uma fase crucial para o desenvolvimento do cérebro e da personalidade. É nessa fase que a criança aprende a confiar, a se expressar, a lidar com frustrações e a entender o que é certo e errado. As experiências vividas nesse período moldam o comportamento futuro e a forma como a criança lida com os desafios da vida.
Usar a disciplina positiva na primeira infância ajuda a criar uma base sólida de vínculo afetivo entre o adulto e a criança. Em vez de medo, a criança sente confiança. Em vez de obediência cega, ela desenvolve autocontrole e consciência.
E mais: estudos mostram que crianças educadas com base em respeito e conexão têm mais autoestima, são mais colaborativas e lidam melhor com conflitos.
O que a disciplina positiva NÃO é
Antes de seguir, é importante derrubar alguns mitos. A disciplina positiva não é permissividade. Ela não significa deixar a criança fazer o que quiser ou evitar conflitos a todo custo.
Muito pelo contrário: ela defende o estabelecimento de limites claros, mas sempre com empatia. A diferença está no como esses limites são apresentados: com diálogo, com escuta, com acolhimento.
Também não se trata de premiar comportamentos desejados o tempo todo, como se a criança fosse um robô que só responde a recompensas. A ideia é desenvolver a consciência interna, e não a dependência de estímulos externos.
Princípios da disciplina positiva na prática
Vamos aos pilares que sustentam essa abordagem e como aplicá-los com crianças pequenas:
1. Conexão antes da correção
Se a criança não se sente segura e conectada ao adulto, ela dificilmente vai querer cooperar. Por isso, antes de corrigir um comportamento, construa vínculo: olhe nos olhos, agache para ficar na altura dela, chame pelo nome com carinho.
Exemplo: ao invés de gritar “pare com isso agora!”, tente:
“Filho, vem cá, posso te ajudar? Vamos conversar sobre o que aconteceu.”
2. Compreender o comportamento, não apenas reagir
Toda ação da criança tem uma razão por trás. Às vezes é sono, fome, tédio ou necessidade de atenção. O desafio é parar, respirar fundo e perguntar: “O que essa criança precisa agora?”
Exemplo: se seu filho joga brinquedos no chão, talvez ele não esteja sendo “malcriado”, mas só esteja frustrado ou precisando de movimento.
3. Evitar punições e castigos
Punições ensinam pela dor e pela culpa, mas não criam aprendizado real. O que funciona mais é a consequência lógica ou natural.
Por exemplo:
Se a criança derramou água de propósito, a consequência pode ser ajudá-la a limpar, ao invés de colocá-la de castigo.
4. Envolver a criança nas soluções
Mesmo os pequenos podem participar das decisões. Isso aumenta o senso de pertencimento e responsabilidade.
Exemplo:
“Você jogou seus brinquedos. O que podemos fazer para resolver isso juntos?”
5. Ensinar habilidades, não apenas corrigir erros
Toda vez que uma criança erra, há uma oportunidade de ensinar. Seja como lidar com raiva, como pedir desculpas ou como esperar a sua vez. Transforme o erro em aprendizado.
Como aplicar a disciplina positiva na rotina da criança?
Agora que você entendeu o que é a disciplina positiva na primeira infância, veja como ela pode aparecer nas situações do dia a dia:
Na hora da birra
Em vez de gritar ou mandar parar, diga:
“Estou aqui com você. Sei que você está bravo. Vamos respirar juntos?”
Depois que a emoção baixar, converse com calma e ensine outra forma de reagir.
Na hora de dormir
Crie uma rotina com carinho e constância. Explique o porquê de cada passo.
“Agora é hora de dormir porque o corpo precisa descansar. Vamos escolher um livro para lermos juntos?”
Na hora das refeições
Evite obrigar. Ofereça escolhas dentro de limites.
“Você prefere brócolis ou cenoura hoje?”

Frases que funcionam melhor na disciplina positiva
Troque frases que geram confronto por outras que abrem espaço para o diálogo:
❌ Frase antiga | ✅ Alternativa positiva |
---|---|
“Você vai ver quando seu pai chegar!” | “Vamos resolver isso juntos agora.” |
“Não chora, não foi nada!” | “Tá tudo bem chorar, quer um abraço?” |
“Você só faz bagunça!” | “Vamos juntos encontrar uma forma de organizar?” |
Benefícios reais da disciplina positiva na primeira infância
Pesquisas mostram que essa abordagem traz benefícios de curto e longo prazo. Veja alguns:
- Mais autocontrole emocional
- Maior empatia e respeito ao outro
- Menos comportamentos agressivos
- Melhor desempenho escolar
- Relacionamentos familiares mais harmoniosos
- Autoconfiança e autoestima fortalecidas
E o mais bonito: a criança sente que tem valor, mesmo quando erra.
Desafios para os pais e como lidar com eles
É claro que colocar isso tudo em prática não é fácil. A correria, o estresse e a falta de apoio dificultam muito.
Mas aí vai um conselho de ouro: você não precisa ser perfeito, só precisa ser presente. Errar faz parte, e o mais importante é sempre voltar à conexão.
Algumas dicas que ajudam:
- Respire antes de reagir
- Relembre a intenção por trás do comportamento da criança
- Pratique o autocuidado — ninguém educa bem com o copo vazio
- Busque apoio: grupos de pais, leituras, terapeutas
Conclusão: um convite à transformação
A disciplina positiva na primeira infância não é uma fórmula mágica. É uma escolha diária de educar com respeito, paciência e amor. Não se trata de controlar o comportamento, mas de ensinar com o coração.
Quando você escolhe essa abordagem, você planta sementes de empatia, responsabilidade e conexão que florescerão por toda a vida da criança.
Lembre-se: educar com firmeza e gentileza é possível — e transforma não só a criança, mas também o adulto que a acompanha.